quarta-feira, 24 de outubro de 2007

F$A - Postagem do comentário feito....

Fundação Santo André

A greve numa encruzilhada: unificar os estudantes pela base e massificar a luta

No dia 13 de setembro, mais de 300 estudantes da Fundação Santo André (FSA) ocuparam a reitoria contra o brutal aumento de mensalidade que estava sendo preparado pelo reitor Odair Bermelho e sua burocracia acadêmica. A repressão truculenta à ocupação por parte da Policia Militar de José Serra, a mando do reitor, não foi o suficiente para derrotar nossa luta. Pelo contrário, o movimento ganhou força com a consolidação de uma greve dos estudantes da Fafil , que tem bastante apoio em outros cursos que começam a entrar em greve. Os professores da Fafil também decretaram greve, porém, sua política vem sendo uma forte pressão para que o movimento estudantil que surgiu, seja desviado para uma saída de uma mudança de figuras de seu partido (PT), mas que não enfrenta o regime universitário. Nesta edição do Jornal Palavra Operária, queremos abrir um debate sobre quais são, na nossa opinião, os desafios e perigos que temos pela frente para fazer avançar na mobilização, assim como o programa que propomos. Os planos neoliberais do PT para a FundaçãoA FSA surge como uma universidade pública e gratuita, financiada pelas prefeituras da região. A partir da década de 70, começam a cobrar taxas semestrais que, nos anos 90, se transformam em mensalidades cada vez mais absurdas, inclusive nas gestões do PT. Há três anos, a prefeitura de Santo André, dirigida pelo PT a mais de uma década, deixou de subsidiar a FSA, porém, ainda mantém uma grande controle na sua estrutura de poder, dirigida majoritariamente pelo mesmo PT.
Nenhum setor da burocracia acadêmica pode responder as nossas demandas Odair Bermelho simboliza a face mais brutal do projeto neoliberal para a educação que o PT vem aplicando, ainda mais depois que chegou à presidência com Lula. Aumentos de mensalidades, convênios diretos com as grandes empresas da região, demissões políticas, aumento absurdo dos chamados “cargos de confiança”, ataques sucessivos aos cursos da Fafil, escândalos de corrupção... são a marca da sua gestão. Uma gestão voltada para atender os interesses das empresas imperialistas e da patronal do ABC, necessitados de uma grande quantidade de mão de obra qualificada e barata, ansiosos para diminuir os postos de trabalho e para aumentar a sua produtividade.
Nosso movimento explodiu num momento em que a burocracia acadêmica está bastante divida numa disputa por “cotas de poder” no interior da universidade. Já em 2005, essa divisão se expressou na disputa entre as duas chapas principais, que disputavam o apoio da comunidade acadêmica e do prefeito Avamileno. De um lado, Odair Bermelho e Hamilton Viana, de outro Márcia Laporta, que tinha como vice na sua chapa Oduvaldo Cacalano. A primeira mais diretamente governista, enquanto a segunda tenta se postular como uma alternativa institucional viável, capaz de mediar os ataques mais diretos, no entanto, sem mudar a direção geral do projeto para a FSA para não romper com o prefeito, a cúpula petista e os capitalistas da região.
Não podemos colocar nosso movimento a reboque da ala “moderada” da burocracia acadêmica petista, que tem Cacalano com sua principal figura, extremamente interessado na queda do reitor, desde que seja pela “via legal”, por um impeachment, para que ele assuma. Não podemos nos esquecer que o desmantelamento da Fafil se iniciou justamente quando Cacalano era diretor e aceitou a imposição do PDI (Projeto de Desenvolvimento Institucional, que aprofundou o sucateamento dos cursos da Fafil) com o discurso de que “não tinha jeito”. Por isso, não podemos aceitar uma mera mudança de figuras.Impeachment: uma política que preserva o regime universitário e os corruptos da câmaraSem nenhuma discussão política, a segunda assembléia geral dos estudantes aprovou, por proposta do DA, a proposta da reunião dos professores de exigir da Câmara de Vereadores e do prefeito o Impeachment do reitor. Uma política feita sob medida para dar uma saída para a crise da universidade sem colocar em cheque sua estrutura de poder e preservar o regime universitário. Pior ainda, delegamos para a mesma câmara que acabou de abafar os escândalos de corrupção do Odair Bermelho, para que defina se ele sai ou não!!!
O ato desta terça-feira, para entregar o pedido de impeachment na Câmara de Vereadores, como já era de se esperar, se transformou num palanque não só para os vereadores do PSDB e do PT, mas para o próprio prefeito Avamileno, se colocarem demagogicamente do lado da comunidade universitária. A reunião de Avamileno com o reitor também não serviu para nada, só para ele dizer que não tem poder para destituir o reitor.
O professor Ricardo Alvarez, do PSOL, aplica na FSA a mesma política criminosa que o seu partido defendeu durante a crise no Senado Federal, de se apoiar do Conselho de “Ética” para exigir a “limpeza” desta casa imunda feita sob medida para aplicar os planos de ataque aos trabalhadores e o povo pobre. Uma política tão dócil que contou com o apoio dos senadores do PSDB e conta agora com o apoio dos vereadores do mesmo partido. Nenhuma ilusão em Cacalano, na burocracia acadêmica e na câmara dos vereadores!Qual é a unidade que precisamos?
A primeira pergunta que queremos fazer é: qual é a unidade defendida pelo DA e pelos professores? É a unidade do movimento estudantil e dos professores que são parte da ala “moderada” da burocracia acadêmica, contra Odair Bermelho.
Na nossa opinião não é essa a unidade que precisamos. Quer dizer então que somos contra a unidade? NÃO. Quer dizer que somos pela unidade dos estudantes contra a burocracia acadêmica, e não com a burocracia acadêmica. Queremos lutar pela unidade dos estudantes, a partir das bases, de cada sala de aula, das assembléias de curso, para se enfrentar fortemente com a burocracia acadêmica e seus ataques.
Trabalhamos pela mais ampla unidade de estudantes, professores e funcionários por reivindicações comuns, que parta de revogar completamente os aumentos, punir os responsáveis pela repressão e as demandas mais sentidas pelos estudantes.
Chamamos os estudantes que honestamente têm se precupado, desde o começo, com a unidade do movimento para que não se debilite, a lutarmos juntos por uma unidade capaz de nos levar à vitória, para não sermos massa de manobra de uma ala da burocracia acadêmica que, alertamos, quando tiver seus interesses atendidos vai ser a primeira a passar para o outro lado, como fizeram recentemente na greve da USP.
Basta de assembléias-comício! Pela democracia direta dos estudantes! Por um comitê de representes de curso e de sala de aula!
Para de fato unificar a comunidade universitária numa luta justa, que consiga o apoio dos trabalhadores e do povo do ABC precisamos nos separar dos carreiristas e dos oportunistas, que necessitam do movimento ao seu redor, cansando os estudantes em assembléias-comício praticamente diárias. Basta de caciques! Que tipo de discussão política que podemos fazer com os estudantes das três faculdades, numa assembléia com poucas falas, onde é necessário fazer tumulto para colocar uma posição contrária à da mesa?
Precisamos nos organizar democraticamente, pela base, e não somente irmos às assembléias para sermos informados do que acontece e para onde estamos indo. É nas assembléias de curso e nas reuniões de sala de aula que podemos discutir de forma aprofundada com a maioria dos estudantes, e devem ser os principais órgãos de discussão e decisão sobre os rumos da mobilização. E um comitê de representantes das assembléias de curso, de sala de aula, revogáveis a qualquer momento e que expressem as posições de maioria e minoria, é que pode expressar as diversas posições existentes.
Nos organizando dessa maneira e colocando como eixo da nossa mobilização as demandas mais sentidas pelos estudantes, podemos conquistar o apoio da maioria dos estudantes da Faeco e da Faeng e, com um movimento massivo, impor uma verdadeira derrota ao reitor e a burocracia acadêmica. Infelizmente, a entrada dos professores em greve tem exercido uma enorme pressão para que a luta pelas demandas mais sentidas pelos estudantes saiam do foco, e nosso movimento passa a ser utilizado como massa de manobra da luta interna da burocracia (PT), onde não há nenhum setor que defenda nossos interesses. Por isso, devemos exigir dos professores comprometimento real com a nossa pauta para vermos os que de fato estão dispostos a dar todo apoio à luta dos estudantes.
Nós somos os mais interessados na queda do reitor, porém, não podemos concordar com os professores que deve ser pela via do impeachment e para abrir espaço para o Cacalano. Queremos derrubar por nossas próprias forças, e nossos próprios métodos, o Odair, que rouba a mensalidade dos estudantes e nos reprime. Mas isso não basta, há um projeto de fundo do PT para a FSA, que só poderá ser derrotado se colocamos para fora toda a burocracia acadêmica que ataca os estudantes e coloca a FSA a serviço dos interesses dos capitalistas da região.
Buscar apoio dos trabalhadores do ABC para dar uma saída de fundo para a crise da FSAEssa luta deve ser um estopim para que coloquemos na ordem do dia o questionamento do caráter da FSA. Essa burocracia acadêmica corrupta já demonstrou que é contraposta aos interesses dos estudantes. Devemos exigir que abram imediatamente todos os livro-caixa da Fundação, para ficar clara todas as falcatruas do PT e das grandes empresas.
Devemos seguir o exemplo que nos deixaram os estudantes da USP, que levantaram a bandeira de estatuinte livre e soberana para transformar radicalmente o conjunto do regime universitário, o que só pode se dar sob a base do enfrentamento e da derrubada dessa burocracia. Além disso, devemos abrir um debate profundo sobre o conteúdo que nos é dado nos currículos, para acabar com a produção de conhecimento para os grandes capitalistas do ABC e da FIESP, e colocá-lo a serviço dos trabalhadores
Porém, é impossível uma universidade minimamente democrática que não seja pública e gratuita, por isso, devemos nos aliar com os trabalhadores do ABC que são os maiores interessados em uma democratização radical da universidade, para lutar pela re-estatização, sob controle da comunidade universitária.